quinta-feira, 2 de outubro de 2008

ROTEIRO DE GUIMARÃES


Há cerca de 8 meses atrás, o Duarte propôs-me escrever um roteiro de Guimarães para a rubrica "city guide" da revista Ennemagazine. Ele não podia fazê-lo porque tinha afazeres profissionais inadiáveis. Acedi à sua proposta e fiz um roteiro de Guimarães. Congratulo-me com o facto de não terem alterado uma vírgula ao texto que envei. Ainda assim, porque é algo que circula pela net (ennemagazine.pt, city guide) e que contem a minha assinatura, mal seria que não figurasse também no meu blog... Por isso, aqui vai o roteiro de um fim-de-semana em Guimarães e quero saber quem tem a coragem de o cumprir...


Guimarães


"...entro em Guimarães com um desafio aliciante: o de travar, neste fim-de-semana, a "batalha" do divertimento, explorando os seus monumentos e locais de culto..."

Sexta-feira

O relógio no carro aponta para as 19.00 horas, Sexta-feira. Saio da auto-estrada, contorno a rotunda de Silvares e entro na variante de Creixomil, em direcção ao centro. Diante de mim, avisto as luzes da cidade e aprecio a paisagem verdadeiramente fotográfica, adornada pela imponência do Castelo e do Paço dos Duques de Bragança, lá no cimo da Colina Sagrada. Estou, naturalmente, em Guimarães, palco de acontecimentos marcantes de um pequeno país, de batalhas épicas, da fundação da nacionalidade. E porque as batalhas de hoje não são as de outrora, também os locais de culto e monumentos são hoje bem distintos dos de há 9 séculos. Assim, entro em Guimarães com um desafio aliciante: o de travar, neste fim-de-semana, a "batalha" do divertimento, explorando os seus monumentos e locais de culto... Guimarães, do passado ao presente, da sua história ao seu desenvolvimento, é um palco de emoções. Senão vejamos... Cheguei a Guimarães. Sendo cedo, paro no Guimarães Shopping, com o intuito de fazer tempo para o jantar. Vou observando as montras das inúmeras lojas, passo a vista pelas novidades das suas salas de cinema. A fome já começa a apertar, pelo que entro no carro novamente e sigo pela circular urbana até à saída de Guimarães Nascente. Logo aí, paro no famoso Neca Magalhães e saboreio uma boa dose de panadinhos com arroz de feijão, acompanhados de um vinho espadal divinal, enquanto desfruto da simpatia dos funcionários deste estabelecimento, tão bem cotado no seio da comunidade vimaranense.

Deixo o café para mais tarde e dirijo-me para o centro da cidade. Estaciono no parque da praceta Mumadona e admiro a arquitectura da mesma, da autoria de Siza Vieira. Desço pela muralha que demarca os limites do centro histórico e vou beber café ao S. Mamede. Outrora sala de cinema, o seu conceito actual de café concerto aliado a uma magnífica sala de espectáculos encerra em si um local obrigatório. Assisti a David Fonseca ao vivo, poderia até ter sido Gotan Project, Clã ou José Cid. Mas a noite ainda é longa. De tal sorte, atravesso as portas da vila e paro na praça Santiago, onde somente eu e a bebida que ostento na mão é que não somos património da UNESCO... Aqui, entro na temática do cinema que decora o Cinecittá, bebo um shot ao som do melhor rock no El Rock, bebo uma mini ao preço da chuva no Cara & Coroa e relembro os grandes hits portugueses e internacionais dos anos 80 no Secos, propriedade do vocalista dos Fragmentos. Mas são 2 da manhã e os bares fecharam. A noite ainda promete muito e por isso vou até ao Património Bar e integro-me facilmente no seu ambiente familiar, dançando os grandes temas do momento. São 4 da manhã. O tempo e a adrenalina rogam-me que não fique por aqui. Mergulho assim no cenário absolutamente Baywatch do La Movida Beach, com os seus bares em madeira e as suas pranchas de surf. Sem Pamela Anderson, sem Mitch Buchannon, mas, goste-se ou não, festa e animação reinam aqui seguramente. O dia já nasceu e a barriga dá horas. Nada melhor que uma breve incursão às perdições de pastelaria da Padaria Nacional (ou o Painço), em frente à muralha. É hora do merecido repouso, no pequeno bungalow de arquitectura moderna para turismo rural, situado na Encosta do Paraíso, em Pevidém.

Sábado

A noite foi longa, logo, a manhã está perdida. Saio do albergue com o apetite de almoço bem aberto. Vou em direcção a S. Torcato e sigo a sugestão de parar na Passarada para me deliciar com o típico bolo quente com sardinha ou toucinho. Vou num ápice para o centro de Guimarães, desejoso de sentir aquele mundo de reis e castelos. Assim, chego ao Largo da Oliveira e saboreio um café com requinte na esplanada da Pousada Nossa Sr.ª da Oliveira. Dou início ao meu trajecto pelo coração do centro histórico, pelas suas seculares ruelas e largos, por entre as suas casas medievais, e passo através do arco da Rua de St.ª Maria até parar uns segundos a admirar a Câmara Municipal e a Biblioteca. Logo adiante, entro nas Costinhas e não resisto a morder uma Torta de Guimarães, esse doce tipicamente vimaranense. Subo pelo Jardim do Carmo e lá no cimo vejo o majestoso Paço dos Duques, a famosa casa senhorial quatrocentista. Sinto de perto a grandeza dos seus salões, o encanto das suas tapeçarias, a arte das suas exposições. Entro no território vizinho e estou, nada mais, nada menos, do que entre 4 paredes de uma das Maravilhas de Portugal: o simbólico Castelo. Subo ao alto da muralha e assisto da Tribuna à batalha de S. Mamede com a panorâmica que me é oferecida do campo de batalha. Concluído o roteiro pela Colina Sagrada, paro no Cor de Tangerina e provo a pizza vegetariana e um dos seus múltiplos chás. Aproveito e espreito o seu bazar. Faço o percurso inverso, e se conhecer Guimarães e sua história é conhecer as raízes do meu país, então atravesso a Oliveira e visito o Museu Alberto Sampaio. É fim de tarde. Está na hora certa de ir até à Av. de Londres a um dos seus cafés. Começo a percorrer o caminho a pé quando dou conta da azáfama que me envolve. Vejo multidões de indumentária branca, em passo apressado. “Porquê tamanho reboliço?”, interrogo um dos transeuntes. A sua resposta limitou-se a um sorriso. E esse sorriso cativou-me, de tal modo que resolvi segui-lo. Vi uma multidão a entrar no Estádio D. Afonso Henriques. Aí percebi que se Guimarães é o berço, o seu Vitória é a mão que o embala. Entrei, assim como dezenas de milhar, e cantei, saltei e vibrei com a multidão que me rodeava, contagiado por uma indescritível paixão que Guimarães e suas gentes depositam nas suas Instituições. As camadas sociais diluem-se e a emoção impera. Afinal, tudo o que eu procurava neste fim-de-semana era emoção e divertimento… E, clubismos de parte e porque futebol é, na sua essência, um espectáculo, não dei por perdido o dinheiro que gastei na aquisição do ingresso… É hora de jantar e nada melhor que deliciar-me com a cozinha típica da região, acompanhada desta feita pelo vinho verde da ordem, no acolhedor El Rey, bem no centro da Praça Santiago. Observo o movimento crescente que vai assolando a praça. Vou ouvir um som ao Túnel logo ali à frente. Vou até à Despensa do Marquês, ao lado do Campo S. Mamede, e não dispenso aquele Martini Bianco. A hora avança e é momento de decidir onde passar uma noite de arromba. As sugestões são 3: desde o ambiente giro do Eskada, em Moreira de Cónegos, passando pelas festas apadrinhadas pelos melhores DJ’s do Custo Lounge, na rodovia de Covas, até ao conceituado TrásTás, no meio da Rua Gil Vicente. Porque a condução sob efeito do álcool é, antes de mais, um tipo legal de crime, a escolha foi por demais sensata e recaiu na última das hipóteses, pelo que entrei no Trás e revivi as grandes tradições da noite vimaranense, neste spot repleto de glamour e de vivências que atravessam múltiplas gerações vimaranenses. Queimadas umas quantas calorias numa noite tão intensa, não podia dormir sem repor as energias dispendidas, colmatando com o necessário alimento. Fazendo jus a um Portugal das tascas e tabernas, fui saborear uma bifana à Tasca do Júlio, no Largo do Trovador. Em resumo, dei entrada no Villa Hotel para pernoitar e já era dia, bem de dia até…

Domingo

Passaram 2 dias magníficos mas violentos. Hoje é o dia de descanso semanal por excelência. Por conseguinte, desfrutar dos pedaços paradisíacos da Natureza que Guimarães oferece é ganhar fôlego para enfrentar uma dura semana de trabalho que se aproxima. Assim, recupero o esforço dispendido no almoço no Oriental, bem no Largo do Toural, com os rojões típicos da região, a sua posta à mirandesa de bradar aos céus ou com a tenrinha picanha sempre de braço dado com o feijão preto. Sinto necessidade de respirar e não hesito em tomar um chá no Formigas, no seio do Parque da Cidade. Dou uma caminhada rejuvenescedora pelo parque e pelos seus trilhos. Sinto uma enorme vontade de ver Guimarães novamente, pelo que sigo viagem no teleférico com destino à Serra da Penha, com as suas fontes naturais e paisagens verdejantes. Deste miradouro, guardo na memória a imagem de uma enorme cidade, activa e conservadora dos seus honrosos valores, dinâmica e empreendedora na construção sustentada de um futuro risonho, com o natural reconhecimento além fronteiras de uma grandeza que ultrapassa a sua área geográfica. Guimarães e o seu futuro. E falar do futuro em Guimarães é dizer: Guimarães Capital Europeia da Cultura/2012. E cultura em Guimarães é ver o novo Centro Cultural de Vila Flor. Aí, caminhei pelos jardins do seu Palácio. Jantei com classe no seu restaurante. E não podia perder o grande filme cartaz da sessão do Cineclube de Guimarães, no Grande Auditório. A lei do eterno retorno. Dirijo-me pela variante de Creixomil, contorno a rotunda de Silvares e estou prestes a entrar na auto-estrada. Para trás, deixo esse mundo dos reis e dos castelos que julguei imaginário. Carimbo assim a estadia na terra dos caminhos convergentes entre a História e o Progresso, dizendo: ad aeterno, Vimaranes!

Texto: Ricardo Pinto da Silva

Fotos: Pedro Rodrigues

AMPLEXO

4 comentários:

Carolina Viana da Fonseca disse...

soa a convite!

Ricardo Pinto da Silva disse...

A não ser que escrevas um roteiro de Ermesinde, Carolina...
És tu que perdes em não conhecer uma cidade destas...

Carolina Viana da Fonseca disse...

Infelizmente, um roteiro de Ermesinde não seria tão apelativo... Nem com os teus dotes literários!
Fica prometida a visita com as outras meninas!

Anónimo disse...

Olá eu chamo-me Nisia e sou de Guimarães, encontrei este blog por acaso quando fazia outras buscas e só te quero dar os parabéns pelo artigo e dizer obrigado pela exclente forma como divulgas-te Guimarães. Tens um talento nato para a escrita e parece-me que conseguis-te em pleno"viver Guimarães".Um bjinho