sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

PREVENÇÃO OU REPREENSÃO?


Fico maravilhado com o conceito de prevenção em Portugal. Então no que toca à prevenção rodoviária deixa-me em estado de absoluto delírio. A elevada taxa de sinistralidade nas estradas deste país é um facto presente, conhecido e que requer alguma intervenção - não se nega. Mas a intervenção que se nota é tão ou mais grave que a elevada taxa dos sinistros que se pretendem evitar e, mais grave do que isto, é o apelidar dessa acção de "prevenção".

Comparativamente falando, em diversos países, mesmo em alguns reputados de "menos desenvolvidos", o conceito de prevenção rodoviária atinge derivações bem distintas do nosso. Tomemos, a mero título de exemplo, no controlo da velocidade. As acções a tomar, nesses outros países que não o nosso e neste campo de prevenção, destinam-se, efectivamente, a demover o condutor de praticar a referida infracção. Serve como exemplo a colocação, na berma da estrada, de "veículos" da autoridade reguladora do trâfego feitos de cartão, que provocam no condutor a ideia de um veículo real e que o obrigam, instintivamente até, a reduzir a velocidade. Apesar do carácter rudimentar desta medida, o facto que ela é eficaz e não será por certo uma exorbitância na despesa pública. Uma outra medida a aplaudir consiste na circulação de 2 veículos da BT em simultâneo, no mesmo sentido de marcha, a uma velocidade de 120 km\h e separados por uma distância de 5 ou 10 km entre eles. O trânsito efectuado entre estes 2 veículos nunca poderia ser feito a uma velocidade muito superior a 120 km\h. Uma outra sugestão, facilmente aplicável no nosso país de brandos costumes, consiste no simples anúncio público de colocação de radares em todas as placas ou sinais de trânsito existentes na berma das auto-estradas. E tal nem seria necessário cumprir: bastaria a colocação de alguns radares, alternando-se o local da sua colocação, para criar a dúvida no condutor sobre o local exacto dos radares, naquele dia e hora específicos. Ou seja, são estas concretizações de facto de um conceito de prevenção ipsis verbis, que um sentido cívico, que tanto é ausente nas estradas de Portugal, não poderá ignorar.

Posto isto, teremos nós um conceito meritório de prevenção rodoviária? A resposta a esta questão resume-se na colocação de um veículo da Brigada de Trânsito, por vezes num caminho de difícil acesso a automóveis, escondido por detrás de uns ramos de árvores e com uma câmara apontada à auto-estrada, com o intuito de captar o condutor a transgredir. Mais adiante, está um outro veículo a ordenar a paragem do(s) condutor(es) infractor(es), após informação enviada pelo veículo "escondido". Vai-se jogando ao jogo do gato e do rato nas estradas de Portugal, e a isso se dá o nome de prevenção. "Absolutamente fascinante", é o que me ocorre dizer! Até na prevenção da condução sob efeito de álcool o espírito reina. Srs. Agentes, será que vocês não conhecem mesmo os locais da noite em voga? Não seria muito mais instrutivo, ético, cívico e, logo, preventivo, destacar agentes para a porta das discotecas e facultar aos cidadãos a hipótese realizar o teste, antes mesmo de estes entrarem nas respectivas viaturas? Perece-vos muito mais digno esconderem-se numa rotunda e surpreenderem o condutor, sem que este tenha exacta noção da infracção que está a cometer? A isto vai-se apelidando de imperativos de prevenção. Pois a mim mais me parece ser legítimo falar-se de "actuação na infracção". E nem a óptica economicista me convence porquanto a situação descrita terá sempre de ser considerada "receita extraordinária" no orçamento de Estado. Ou seja, "prevenção" em Portugal é ficar subrepticiamente a aguardar que o cidadão infrinja. Um conceito verdadeiramente original, o que me faz tirar o chapéu a tamanho brilhantismo...

Espero não ter de apresentar os meus documentos pelo simples facto de estar a escrever este post!

sábado, 20 de dezembro de 2008

APROVADO!!!


A

C

A

B

O

U

!!!


Fica o sentimento de missão cumprida. É com este grito libertador que se anuncia o "Aprovado" que constou do carimbo da badalada prova de fogo que decorreu ontem, 19 de Dezembro de 2008, pelas 16 horas. Foi o terminus de 3 anos e 10 meses de momentos de profunda angústia, desespero, grandes amizades, grandes frustrações, de emoção e de tédio. Foi o final feliz de quase 4 anos de toda esta mescla de sentimentos contraditórios, que caminharam em convergência e constituiram o conteúdo de algo que foi demasiado. Sim, "demasiado" é a palavra mais condizente com a descrição do estágio aqui causa. É um conceito suficientemente indeterminado, capaz de abarcar todos os excessos incompreensíveis que são cometidos. Por isso, este grito, mais que a ilustração de um estado de puro contentamento, é o espelho fiel de um sentimento de profundo ALÍVIO. Havia um peso tremendo que ia incidindo sobre mim e que desapareceu com aquele "aprovado". Certo de que os bons momentos, aquilo que de mais positivo retirei destes 3 anos e 10 meses, ficará para sempre comigo com uma menção de sincero agradecimento. E o que de mau fui enfrentando... também ficará... Para que me ajude a reflectir antes de correr o risco de me meter noutra igual...

Permito-me ainda, porque é de todo merecedor que o faça, mandar neste post uma mensagem de puro agradecimento a todos aqueles que me apoiaram. Notei - e, acima de tudo, reputei por sincero - o sentimento de aliança em todos aqueles que me foram endereçando mensagens de "boa sorte" e de "parabéns". A todos vós digo-vos que nestes momentos é vital enfrentar as adversidades com um espírito de confiança e motivação. E como vocês foram importantes na tarefa de me incutir este espírito! Como me tocaram as lágrimas da minha mãe ao telefone quando lhe transmiti aquele "aprovado"! Neste campo, penso que não poderia estar mais preparado para enfrentar aquele juri. E o mérito foi todo vosso, o que complica seriamente a minha obrigação de vos retribuir.

Por último, o devido depois do prometido. Conforme havia anunciado no primeiro post deste blog, este associa-se ao momento do seu Autor e altera as suas cores, o seu pano de fundo. Os tais "tons de azul" de que falavam os Radio Macau, querendo pintar o céu...


UM SINCERO OBRIGADO!

sábado, 13 de dezembro de 2008

EM REMODELAÇÃO


Assim será até ao próximo dia 19. O "A Páginas Tantas" encerrará as suas portas até à referida data, com a promessa de que serão apresentadas importantes novidades quanto ao futuro do Autor deste blog. O "evento" marcante, ainda que eu não o indique, é facilmente apreendido por quem se deu ao trabalho de ler certos e determinados posts que daqui constam. É tempo de concentração, de apontar baterias para um objectivo verdadeiramente decisivo...

Até 19 então!

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

AINDA A SONDAGEM


Ficou a vitória, com sabor amargo. Faz-se aqui o público "mea culpa", reconhecendo-se que esta era uma meta demasiado exigente... Para o ano fica a promessa de que o objectivo será chegar ao cortejo, no Campo de S. Mamede.
E por ora, os calos nas mãos não me permitem que diga muito mais. Exceptuando que, mais uma vez, gostei.
Cumprimentos e dos melhores!

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

NICOLINAS


O Pinheiro aproxima-se a uma velocidade estonteante. Enquanto escrevo estas palavras absorvo o rufar das caixas e dos bombos que se ouve ao longe, nos últimos dias de afinação dos instrumentos para que tudo esteja "o.k." no Dia D, 29/11. Sou ainda mais fã das Nicolinas do que da Geração Spectrum, ainda que aquelas só tenham lugar uma vez no ano e em data certa. Todavia, empolgo-me ao saber que está a chegar o dia de histórias memoráveis em que até os próprios protagonistas... se esquecem! Sim, não é fácil, nem estará ao alcance de qualquer mente brilhante, recordar-se da noite de 29 de Novembro, em Guimarães. Mas porque toquei acidentalmente neste assunto, há um episódio que poucos se esquecerão. É a excepção portanto, essa, que vem sempre confirmar a regra...

Isto posto, há 2 anos atrás, no meio do cortejo do Pinheiro, encontrei o meu amigo João Miguel no Largo do Toural mesmo em frente à Cervejaria Martins. Nesta data, o meu amigo João Miguel já estava emigrado em terras de Sua Majestade, Queen Elizabeth. Rejubilei com a sua aparição como seria de esperar. Primeiro porque é meu amigo e não o via há bastante tempo. Segundo porque pude constatar que ele tinha sobrevivido em terras onde se come peixe com batatas fritas, apesar de ele estar alguns 10 quilos mais seco. Por último, but not the least, porque o meu amigo João Miguel, sendo emigrante e vimaranense, não optou por visitar a sua terra mãe nas Festas Gualterianas, ao contrário do que o protótipo da espécie em causa faria prever. João Miguel, homem de bom tom, escolheu o Pinheiro. Nós, A Páginas Tantas, dizemos: "escolheste bem!".

Mas se a sua escolha não sofre qualquer tipo de contestação, a sua atitude quando me reencontrou requer outro tipo de análise. Como se disse, João Miguel encontrava-se emigrado em terras de Sua Majestade, Queen Elizabeth. E no dia 29 de Novembro de 2006, João Miguel encontrava-se, não emigrado, mas embriagado nas terras de Sua Majestade, D. Afonso I. Bastante embriagado. Podre de bêbado vá lá... Quando me viu, João Miguel soltou nada mais nada menos do que isto: "Rigga (Entoação que deu à minha alcunha - Rica - possuído por sensivelmente 13% de teor alcoolico)!!! Meu amigo, como tás?! Que queres que eu dou-te? Queres camarão? Eu dou-te camarão!!! Vou ali dentro (cervejaria Martins) e trago-te finos e camarão!!!". Estou convencido de que, naquele momento, conseguiria obter do meu amigo João Miguel tudo o que quisesse. Se lhe dissesse que queria o Palácio da Pena só para mim, estou em crer que o meu amigo João Miguel se metia no carro e me conduziria até ao cartório notarial de Sintra para celebrar a respectiva escritura pública. Ainda assim, porque não queria arruinar a vida de sucesso do meu amigo na Velha Albion e porque nem tão pouco tive hipótese de lhe pedir o que quer que fosse, não o impedi de se dirigir para o interior da cervejaria Martins com a ideia fixa de me inundar de cerveja e camarão. Só rezava para que o camarão viesse já descascado...

Contudo, os seus intentos foram literalmente barrados por 2 seguranças que estavam destacados para manter a ordem na entrada da cervejaria. Para seu azar, no momento em que João Miguel se apresentava a atravessar a porta, viu-se no meio de um "sururu" que entretanto ali se gerou. Resultado, crente de que o João Miguel era parte integrante daquele desaguisado, um dos seguranças "ofereceu" ao João Miguel aquele ESTALO SECO, DE MÃO ABERTA, VERGONHOSO E MONUMENTAL, que o fez recuar do interior da cervejaria. Digamos que o João Miguel fez ricochete portanto...

Consequentemente, o João Miguel ausentou-se da minha beira e regressou numa fracção de escassos segundos. Reapareceu SORRIDENTE (!!!) e disse: "Hey, acabei de levar um estaladão! (risos, risos, risos e risos, e por aí além)". Os finos e o camarão? Esses nem vê-los...

Concluindo, numa parceria inédita com o Centro de Sondagens da Universidade Católica, o A Páginas Tantas lançou o inquérito apresentado na parte superior direita deste blog, questionando os interessados a responder se o João Miguel irá comer novamente um estaladão dos seguranças da cervejaria Martins. É oferecida uma vasta gama de respostas capazes de abarcar a quase totalidade das situações que poderão ocorrer. A identidade dos inquiridos não será revelada. Por fim, este blog entende que votar é um direito, bem como um dever cívico. Pelo que se apela ao leitor que vote, que se abstenha de ser abstenção.

Vamos a votos!

REPOSIÇÃO

Tal como houvera prometido, está reposta a imagem de perfil mais fidedigna do espírito com que vão ser encarados os próximos tempos. Apenas e só com mais casacos, sem falsos "Ray Ban" espelhados e com um céu mais cinzento...

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

NOVA IMAGEM

Decidi alterar o figurino do meu perfil no blog. Optei pela apresentação de uma imagem de perfil com maior seriedade. Fi-lo porque entendo que os tempos de "circo" já chegaram ao fim. De hoje em diante, tornei-me num ser muito mais sério, competente, profissional e dedicado. Salvo a honrosa excepção dos anos do Gu no próximo Sábado, que será para partir tudo... E do Pinheiro no Sábado seguinte... E do jantar de Natal do pessoal... E do jantar de Natal do escritório... E dos anos da Carol... E do Natal... E da passagem de ano...
Bem, talvez seja melhor dar já o dito pelo não dito e afirmar que, afinal, continuarei a ser o mesmo bandalho do costume... Deixo ficar este post apenas para fazer render a nova foto de perfil. Com uma agenda destas, como será que se alcança a seriedade?
Para a semana, reponho a foto que estava. É melhor assim...

terça-feira, 18 de novembro de 2008


Que agradável teimosia de isto ser sempre... fixe!

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

REFLEXÃO


A par das incontornáveis questões da filosofia clássica, tais como "quem somos?", "de onde vimos?", ou "para onde vamos?", talvez tenhamos que colocar no mesmo patamar esta outra:
UM CLUBE DE FUTEBOL, PREVIAMENTE À PROSSECUÇÃO DA VITÓRIA COMO OBJECTIVO PRIMORDIAL, NÃO DEVERÁ PREOCUPAR-SE EM JOGAR FUTEBOL? CASO CONTRÁRIO, QUAL O VERDADEIRO CONCEITO DE "CLUBE DE FUTEBOL"?
Coloquei esta questão a mim mesmo, por volta das 20:15 do último Sábado, e achei que devia partilhar convosco...

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

REACÇÕES


Em resposta ao post anterior, Paulo Sampaio parece indicar:
"ORA AÍ ESTÁ UMA GRANDE QUESTÃO!"

PERGUNTA




ESTARIA JÁ ARISTÓTELES, HÁ ÉPOCA, A PENSAR IGUALMENTE EM NACIONALIZAR O BPN?

NARRETINAS


Aumentei a minha lista de espaços na secção "O que eu leio ou participo" com este novo endereço do blogger, uma vez que está em causa o novíssimo blog do Ildo, o qual a blogosfera acolhe com passadeira vermelha, smoking e fogo de artifício, confiante em posts de inegável valor literário e opinião conscienciosa. Bem melhores perspectivas quando comparado com o blog do Henri Antchouet... Junto assim numa só voz (que é a minha) a expressão comum de contentamento de bloguistas e "comentadores de bancada", sedentos de escrita exímia, desejando enormes sucessos a este novo "rebento".
Vamos a isso!
Chegou o tempo de partir a loiça...
Aquele abraço

sábado, 8 de novembro de 2008


Há cerca de 20 anos, foi mais ou menos assim:

Naquela rua antiga, a luz de uma manhã solarenga de Verão de S. Martinho realçava a lixeira e desordem que provinham das obras do edifício em construção. Contudo, a areia espalhada pelo passeio, as redes de aço enroladas na berma da estrada e os longos blocos de betão empilhados não iriam beliscar a aparição daquele indivíduo com o cabelo à Bucketheads e dos seus sapatos à Júlio Iglesias. Vinha lá de longe, a pé, o guardião Neno, em direcção ao Complexo Desportivo. Não vinha a cantar. Ainda não se lhe conhecia tamanho dom encantatório. Mas ostentava aquele sorriso um pouco parvo que, aqui sim, já lhe era característico.
Foi possível ver aquele miúdo abeirar-se do guardião Neno. Era visível na mão dele (miúdo) a caderneta dos cromos de futebol da época em curso, além da camisola do Liverpool que trazia vestido. Era a do Ian Rush, se bem que o miúdo, que não teria mais de 9 anos, não apresentava um bigode condizente com o do temível dianteiro galês. Ainda assim, aquele rapaz franzino escusou-se em bater inapelavelmente o guardião cabo-verdiano com um remate seco, rasteiro e colocado, mesmo sabendo que este se encontrava fora dos postes, logo, no local onde ele era francamente mau. Ao invés, o miúdo remataria da seguinte forma:


- “Ó Neno, importa-se de me autografar a minha caderneta?”


Desconhece-se se o cromo do Neno já figuraria naquela específica caderneta. Mas o valor sentimental daquela caderneta e daquele iminente autógrafo era inquestionável no processo de formação daquele específico miúdo. Reconhece-se facilmente a ampla densidade emocional daquela rúbrica, nem que fosse junto do cromo do Eskilsson ou do talentoso Jorge Plácido. E Neno, sempre melodiosamente, “defenderia” da seguinte forma:

- “Não dá. Não tenho caneta… Eu sou da Cidade Velha, de Cabo Verde, de Cabo Verde.”

Foi um balde igual ao das obras do edifício em construção e cheio de água fria. Para alguém de, no máximo, 9 anos de idade uma caneta representa invariavelmente as aulinhas na escola primária. Não era pois de esperar que o miúdo, devoto do Liverpool e do Ian Rush, decorasse a lapela da sua camisola dos “reds” com esse dito objecto. Desanimado e cabisbaixo, o miúdo “insistiu com novo cruzamento”:

- “Deixe lá Sr. Neno, da ilha de Santiago, de Cabo Verde, de Cabo Verde. Vou para casa jogar o Emilio Butragueño no meu Spectrum e não penso mais nisso.”

Inteligentemente respondeu, assim, aquele miúdo. Porque, sapientemente, aquele miúdo de talvez 8 anos de idade, devoto do Liverpool e do Ian Rush e sem um bigode condizente com o deste, sabia que iria dar lugar a um miúdo, não de 8 mas de quase 28, que continuaria devoto do Liverpool e do Ian Rush e talvez agora capaz de ostentar um bigode condizente com o deste. E na mão deste “novo” miúdo continua visível a caderneta dos cromos de futebol da época em curso, agora sem que aí figure o guardião Neno, quer na caderneta quer entre os postes, onde ele até era bom…

Posto isto, a presente rábula oferece dois pequenos esclarecimentos:
1- Aquele miúdo devoto do Liverpool e do Ian Rush, sem um bigode condizente com o deste, era eu.

2- Estou a coleccionar os cromos de futebol e já tenho repetidos. Aceito trocar, desde que não seja por autógrafos do ex-guardião Neno.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

O blog referido no pretérito post era do Duarte. Sucede que este acobardou-se e "mandou" o blog para o esquecimento, apagando-o. Soltou assim a derradeira ideia...
Adorei os posts deste blog... Ideias demasiado soltas até. Escreve posts meu!

YES, WE CAN!



No dia 27 de Maio do longínquo ano de 1987, via entrar em campo as equipas do Dinamo de Kiev e do Futebol Clube do Porto, a contar para a segunda mão da meia-final da Taça dos Campeões Europeus dessa época. Num Estádio Central em Kiev, de bancadas repletas de fardas e militares bolcheviques, a frieza geométrica de Valeri Lobanovsky, o "velho lobo", enfrentava o romantismo de bigode aparadinho de Artur Jorge, o "poeta", tendo em vista a presença na mítica Final de Viena. A equipa deste último, que contava nas suas fileiras com artífices como Gomes "Bibota", o inesquecível Paulo "2/3 piques" Futre, Lima Pereira ou André das Caxinas, abria o activo por Celso, de livre directo, logo no início da partida. Gomes elevaria a contenda para o 0-2, na sequência de um canto, ainda antes do minuto 10. Mikhailichenko ainda reduziria por banda dos ucranianos até que comecei a sentir a visão reduzida. Não, tal não ocorreu pelo eventual nevoeiro que se fez sentir. Simplesmente comecei a fechar os olhos porque estava a adormecer. E não se pense que adormeci em pleno Estádio Central em Kiev. Na verdade, eu nunca estive em Kiev, apenas observava o desafio no "Mundo Desportivo" da RTP Memória quando me refastelei no sofá, sensivelmente pela uma da manhã... Contudo, o resultado não viria a sofrer alterações. Juntando ao também 2-1 da primeira mão nas Antas, obra de Paulo Futre e André nos golos portistas, o FCP marcaria presença em Viena para a Final a disputar contra os bávaros de Munique. E o resto da história, já dela muito se conhece. "Yes, we can!", assim se entoou no relvado ucraniano, com sotaque do Montijo e das Caxinas (Cacsinaz, em inglês).

Duas horas depois (3:30 a.m.) veio o despertar e as projecções apontavam a vitória de Barack Obama, juntamente com as dores no pescoço e na região lombar advindas daquele adormecer no sofá. Meia-hora foi o tempo que mediou entre as meras projecções e a certeza do resultado. Barack Obama era eleito o 44º Presidente dos Estados Unidos da América, às 4 da manhã em Portugal Continental. O desfecho indicou uma vitória esmagadora na composição do Colégio Eleitoral. O "resgate" de Estados tradicionalmente republicanos constitui uma vitória política assinalável. Assim, também eu me alio às mensagens de regozijo da generalidade dos líderes mundias e digo que o povo americano, finalmente, acertou. É um marco da História contemporânea, a que assisti ao vivo, impulsionador do diálogo e do consenso no cenário internacional. Uma lufada de ar fresco, portanto, a combater flagelos de crise e de conflitos. Do discurso da vitória ficaria na retina um "Yes, we can!". Justifica-se. Foram dados novos mundos ao Mundo na madrugada de quarta-feira.

Concluindo, impera a máxima "Yes, we can!". Vou-me juntar ao momento e fazer jus a isso. Assim sendo, vou escolher novo tema e encarar com confiança os próximos desafios porque "Yes, i can"!

Vamos a isso.


Texto em homenagem ao Catedrático, o Professor Doutor ALESSANDRO DEL PIERO, a quem nós, A Páginas Tantas, também aplaudimos e de pé

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

DESAIRES


Passaram dois dias e em pouco ou nada a consegui calar. É este o sentimento que impera e que estará para ficar, pelo menos durante algum tempo mais. A realidade, nua e crua, é que o objectivo a que me propus no passado dia 31 de Outubro foi redondamente frustrado. Foi um soco no estomago demasiado violento que tardará em sarar as devidas feridas. Porque, sem querer escusar o sucedido, ainda sinto aquele cheiro incomodativo de injustiça que ficou a pairar... Não esperava (e não esperava legitimamente...) encontrar algo que se desviasse daquilo que está regulamentado, daquilo que até então havia sido, daquilo que deveria continuar a ter sido. Constatei, pelo contrário, que houve 2 pesos e duas medidas no dia em que desesperadamente ansiei que chegasse em quase 4 anos. E ainda mais revoltante e frustrante se apresenta o cenário quando está inviabilizada qualquer hipótese de reacção, de combate, de reposição da justiça dos acontecimentos. Não afirmo, porque não o posso fazer, que se houvesse normalidade em todos os procedimentos teria sido inevitavelmente bem sucedido. Seria ir longe demais. Contudo, porque não houve essa normalidade, porque se desobedeceu ao regulamentado, porque não se entendeu a essência e o propósito daquele momento, não tive sequer o "privilégio" de saber se seria ou não bem sucedido caso tudo tivesse corrido de maneira diferente, ou seja, segundo os parâmetros normais do momento. E esta é uma revolta muito difícil de calar. É um sapo muito gordo para ser engolido. Mas não resta outra hipótese a não ser fazer o próximo pagar a factura... Desde que, desta vez, tudo corra dentro da mais que justa normalidade...
Desculpem-me a "codificação" da linguagem, mas quem está por dentro do assunto compreenderá por certo o que quero expressar.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

GERAÇÃO SPECTRUM - O BLOG




Noticio aqui a descoberta da Geração Spectrum, na sua vertente de blog. Previsivelmente, aconselho uma incursão ao mesmo, no link disponível do lado direito, e aconselho mais ainda, a quem nunca foi a nenhuma, uma deslocação ao S. Mamede no próximo dia 5 de Dezembro...
Entretanto deixo-vos também a minha foto, com o Pacha e com o Pedro, aquando a minha "primeira" Geração Spectrum no Património, encontrada algures num post do referido blog.
Spectrum, até dia 5 do 12!

terça-feira, 21 de outubro de 2008

DIA D

Está confirmado. O próximo dia 31 de Outubro está destinado a ser um marco histórico pessoal. Resta saber se para o melhor se para o pior. Ignorando a sua carga de misticismo e bruxedo, às 17h30m desse dia estarei a dar entrada para a derradeira e decisiva prova de fogo, a última avaliação que poderá pôr fim ao meu estágio. Pôr fim a 3 anos e 8 meses (!!!) de formação. A carga emotiva do momento é inegável e, por esta altura, faz-me "tremer como varas verdes" por este ansiado momento.
Temo que não tenha outra chance. O caminho a enveredar passa invariavelmente pela recuperação daquele estado de confiança que encarnava nos corredores da Faculdade de Direito em Coimbra, aquando a realização de provas orais. Tenho pois de reavivar aquele sentimento de que "vou rebentar com eles". Não há volta a dar. Nem que, para tal, tenha de engrandecer juridicamente...

FOI GRANDE!




Mais uma Geração Spectrum e que dizer sobre isso?
O primeiro introito limita-se a justificar o tamanho reduzido da imagem. Foi assim que "vi" a Geração Spectrum de 18 de Outubro último: com uma visão amplamente "redutora", afunilante e em profundidade, tradutora de um estado que nem convém aqui descrever...
Mas no que toca ao sentimento, o caso muda completamente de figura. Pouco me importa que os hits que eu ouço (bem como os que esqueço), na Geração Spectrum, estejam, sob o seu prisma de temporalidade, mais ultrapassados que o Francis Obikwelu. Para mim, que tenho o "poder" de escrever estas palavras, estou neste preciso momento a descrever algo que me é intemporal! Adoro ABBA, gosto de AC/DC, ainda vejo o Top Gun e o Dirty Dancing, se for caso disso, e lembro-me do Macgyver e do Verão Azul como se fosse hoje. Na última Geração Spectrum, à semalhança das anteriores, logrei provar tudo isso, nem que seja a mim mesmo.
Em suma, dê por onde der. Posso espernear, emigrar, barricar-me, etc. e etc. Mas por mais Gerações Spectrum a que eu vá, não consigo esmorecer...
Portanto, «load"" e... enter»! E não é que entra sempre?
WE ARE THE WORLD - USA FOR AFRICA
There comes a time
When we heard a certain call
When the world must come together as one
There are people dying
And it's time to lend a hand to life
The greatest gift of all
We can't go on
Pretending day by day
That someone, somewhere will soon make a change
We are all a part of God's great big family
And the truth, you know love is all we need
[Chorus]
We are the world
We are the children
We are the ones who make a brighter day
So let's start giving
There's a choice we're making
We're saving our own lives
It's true we'll make a better day
Just you and me
Send them your heart
So they'll know that someone cares
And their lives will be stronger and free
As God has shown us by turning stone to bread
So we all must lend a helping hand
[Chorus]
We are the world
We are the children
We are the ones who make a brighter day
So let's start giving
There's a choice we're making
We're saving our own lives
It's true we'll make a better day
Just you and me
When you're down and out
There seems no hope at all
But if you just believe
There's no way we can fall
Well, well, well, well, let us realize
That a change will only come
When we stand together as one
[Chorus]
We are the world
We are the children
We are the ones who make a brighter day
So let's start giving
There's a choice we're making
We're saving our own lives
It's true we'll make a better day
Just you and me

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

"FODA-SE"
Lendo este blog na diagonal, esta é a palavra mais vezes escrita, cumprido 1 mês de páginas tantas. Se porventura, à entrada deste post, houvesse dúvidas quanto ao vocábulo mais utilizado, serve a presente nota para desempatar a contenda.
Assim sendo,
HAJA CLASSE! ELEVAR O NÍVEL NÃO É PRECISO...

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

UMA PREMONIÇÃO EVIDENTE

Quando toca a entrar em detalhes sobre arquitectura, reconheço que sou um autêntico asno. Consigo apenas observar algo esteticamente interessante ou não, funcional ou nem por isso.
O Edifício da Vimágua, no Parque das Hortas, não constitui a excepção que confirma a regra. O edifício até nem é feio, pelo menos o que dele conheço, ou seja, a sua parte exterior, mas nunca me passou despercebido um determinado detalhe: aquela pequena fonte que se estende ao longo da parte lateral do edifício. Em linguagem mais simplista, esse pequeno adereço consiste num buraco relativamente fundo, junto ao vidro na parte lateral do prédio e próximo da entrada, que tem uns repuxos a "cuspir" água para cima. Fácil se torna de entender, pois, que derivado à sua proximidade com a porta de entrada, essa pequena fonte poderia tornar-se num adereço bastante perigoso. Pelo menos aos mais distraídos ou que saíssem do edifício incrédulos a olhar para a conta da água... Nunca augurei muito de positivo àquela fonte, portanto.
Este prognóstico passaria a facto concreto efectivamente ocorrido num ápice: aquando a queda, vergonhosa e triunfal, da primeira "vítima" dentro dos referidos repuxos. A esta seguiu-se uma segunda vítima. Foi, claro está, completamente infrutífera a minha tentativa de suster aquele riso descontrolado que sempre surge nestas ocasiões. Tentar mantê-lo (ao riso) naquela zona da garganta e ostentar aquela cara a começar a avermelhar, como se estivesse prestes a explodir. De referir, neste capítulo, que as duas vítimas eram individualidades completamente distintas:
- a primeira, era mulher, nos seus médios 30, com um ar absolutamente agreste, grunho e arruaceiro, decorado com umas calças de ganga notoriamente cortadas pelo joelho com uma "corta e cose" e com umas tatuagens desde o gémeo ao tornozelo consistentes numa espécie de figuras de mitologia oriental com dragões. No momento daquele "chapinhar" inesperado e estrondoso, além de evidente a factura da água numa das suas mãos, do seu intelecto foi colossalmente audível um "Foda-se!!!", daqueles ditos com sentimento e pinceladas de algum amor, "foda-se" este já aflorado no post "Garraiadas" deste blog.

- a segunda vítima, era um homem, nos seus médios 40, aparência mais clássica com calças de fazenda, sapato clássico e camisa. Bem parecido até. Aquando o seu "mergulho" para o estado de vexame, além de perceptível a factura da água numa das suas mãos, ouviu-se-lhe um "Ahhh!!!", uma interjeição de espanto e perplexidade que não apagou a "marca de água" nas suas calças desde os joelhos até aos pés, nem aquele som de "Tchec, tchec" que acompanhava os passos que ia dando até bem longe dali.

Posto isto, foi incontrolável ter-me desmanchado a rir. Na entrada do escritório, não consegui suster. Nem eu, nem nenhum dos que assistiram do "anfiteatro" ao lado de onde me encontrava, vulgo, uma esplanada de uma padaria repleta de clientela. Entendo que faz falta ali qualquer coisa que previna futuras "derrapagens", algum tipo de protecção. Aquilo até está bonitinho, sim senhor, mas já se previa perigoso...

Moral da estória, este seria o modo como descreveria a situação de crise financeira actual: pegamos num pequeno "adereço" como seja o crédito à habitação; durante largos tempos de concessão desenfreada, foi "bonitinho" sim senhor; mas previa-se perigoso... A isto, uns reagem com um "foda-se!!!", outros com um "ahhh!", mas urge colocar uma barreira que previna futuras derrapagens, algum tipo de protecção. A comparação sofre apenas uma nuance: eu não acho grande piada a isto e aposto que o restante "anfiteatro" também não... Pois quanto ao mais, as semelhanças são assustadoramente incríveis.


quarta-feira, 8 de outubro de 2008

REENCONTROS FELIZES


Passei a vista mesmo agora pelo blog delas, o Ambiente Grego, e reparei que a Ana deixou lá um post com a etiqueta de agradecimento. O seu post destinava-se a agradecer a todos aqueles que, tal como eu, compareceram no Sábado, no Oriental, no seu jantar de aniversário, jantar este que ela não sabia que estava agendado... Isso mesmo, foi um jantar surpresa para alguém que não queria festejar o seu aniversário e que merece mais do que muitos que os seus mais próximos o festejem. Foi portanto uma surpresa mais do que merecida, merecimento esse que se estendia a que o dito jantar nao caísse no esquecimento. Assim o foi, ela reconheceu-o e, como tal, o objectivo foi plenamente cumprido. E, por mim falando, o jantar correu lindamente. Também eu partilho da opinião da Ana quando diz que a imagem de ordem foi a boa disposição. Mais uma vez, porque não é por demais dizê-lo, a Ana merecia isso, e merecia-o também da minha parte.
Sem descurar tudo isto, continuo hoje a matutar no que me aconteceu na entrada do Oriental. Quando cheguei ao restaurante, ainda na rua, deparei-me com um grupo enorme que lá estava prestes a entrar. Comecei por vêr o Marco, depois o Varela, o Fafe, o Noel, o Eduardo, o Garinho, os irmãos do Eduardo, outras tantas caras que conhecia desde que me conheço e outras que até nem conhecia. Curioso é que todos estes nomes, todas estas caras e estes vultos, eu conheço de um só lugar: da Rua Dr. Carlos Malheiro Dias, perpendicular à Calouste Gulbenkian. Nada mais nada menos de que o lugar onde eu vivi até aos meus 11 anos. Ali, prestes a começar, ia decorrer o jantar da minha antiga rua, dos Amigos da Rua, como eles apelidaram. Por momentos, pensei que seria eu que estaria a ser surpreendido e não a Ana... Mas não, foi um mero acaso, uma feliz coincidência. Pediram-me o meu número e o meu e-mail para me avisarem do próximo jantar. Cedi esses dados de pronto. Lembro-me bem dos tempos da Rua em que as noites acabavam com os fados do Pechincha em frente ao Vianeza; em que jogava à bola no jardim dos escuteiros e fugia sempre que via um veículo da polícia; em que ia para o Liceu atirar cartuchos com as armas de canudos, aos carros que passavam, e só acabava em casa com o condutor atingido a entregar-me aos meus pais "pelos colarinhos"... Fiquei de facto feliz por saber que a camaradagem da altura ainda existe, que perdurou por entre os diferentes destinos de todos eles.
Como tal, voltei a questionar Cesare Pavese, se seria inabitável aquele lugar onde fui feliz. E voltei a constatar o colapso desse pensamento... Por isso, comprometo-me também aqui a estar presente no próximo jantar dos Amigos da Rua, mesmo sem os fados do Pechincha...
P.S.: Duarte, se vires este post, quero que saibas que digitalizei a foto... e sozinho!

terça-feira, 7 de outubro de 2008

FLAGRANTE OCASIÃO

Amei o novo espaço criado no site e no jornal do Vitória Sport Clube. Com o nome "Flagrante ocasião" nasceu um espaço, coordenado e realizado pelo Duarte, que consiste em entrevistas onde são confrontados os jogadores do clube. Sucede que o tipo de entrevista em causa é algo que não se vê nos jornais diários ou semanários, de maior ou menor tiragem: é um conjunto de perguntas com uma pitada de humor, que obrigam o entrevistado a enfrentar com uma boa dose de frontalidade aspectos menos positivos da sua carreira. E as respostas só podem ser as melhores. Ou seja, é um tipo de entrevista que foge invariavelmente dos parâmetros de normalidade. E porque eu gosto de tudo o que fuja desses parâmetros, e porque sou altamente parvo, não deixei de me deliciar e de gracejar ao ler a entrevista ao Yves Desmarets - a primeira vítima!
Fica assim a sugestão. E fico também a aguardar por novos desenvolvimentos, leia-se, novas "flagrantes ocasiões".

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

ROTEIRO DE GUIMARÃES


Há cerca de 8 meses atrás, o Duarte propôs-me escrever um roteiro de Guimarães para a rubrica "city guide" da revista Ennemagazine. Ele não podia fazê-lo porque tinha afazeres profissionais inadiáveis. Acedi à sua proposta e fiz um roteiro de Guimarães. Congratulo-me com o facto de não terem alterado uma vírgula ao texto que envei. Ainda assim, porque é algo que circula pela net (ennemagazine.pt, city guide) e que contem a minha assinatura, mal seria que não figurasse também no meu blog... Por isso, aqui vai o roteiro de um fim-de-semana em Guimarães e quero saber quem tem a coragem de o cumprir...


Guimarães


"...entro em Guimarães com um desafio aliciante: o de travar, neste fim-de-semana, a "batalha" do divertimento, explorando os seus monumentos e locais de culto..."

Sexta-feira

O relógio no carro aponta para as 19.00 horas, Sexta-feira. Saio da auto-estrada, contorno a rotunda de Silvares e entro na variante de Creixomil, em direcção ao centro. Diante de mim, avisto as luzes da cidade e aprecio a paisagem verdadeiramente fotográfica, adornada pela imponência do Castelo e do Paço dos Duques de Bragança, lá no cimo da Colina Sagrada. Estou, naturalmente, em Guimarães, palco de acontecimentos marcantes de um pequeno país, de batalhas épicas, da fundação da nacionalidade. E porque as batalhas de hoje não são as de outrora, também os locais de culto e monumentos são hoje bem distintos dos de há 9 séculos. Assim, entro em Guimarães com um desafio aliciante: o de travar, neste fim-de-semana, a "batalha" do divertimento, explorando os seus monumentos e locais de culto... Guimarães, do passado ao presente, da sua história ao seu desenvolvimento, é um palco de emoções. Senão vejamos... Cheguei a Guimarães. Sendo cedo, paro no Guimarães Shopping, com o intuito de fazer tempo para o jantar. Vou observando as montras das inúmeras lojas, passo a vista pelas novidades das suas salas de cinema. A fome já começa a apertar, pelo que entro no carro novamente e sigo pela circular urbana até à saída de Guimarães Nascente. Logo aí, paro no famoso Neca Magalhães e saboreio uma boa dose de panadinhos com arroz de feijão, acompanhados de um vinho espadal divinal, enquanto desfruto da simpatia dos funcionários deste estabelecimento, tão bem cotado no seio da comunidade vimaranense.

Deixo o café para mais tarde e dirijo-me para o centro da cidade. Estaciono no parque da praceta Mumadona e admiro a arquitectura da mesma, da autoria de Siza Vieira. Desço pela muralha que demarca os limites do centro histórico e vou beber café ao S. Mamede. Outrora sala de cinema, o seu conceito actual de café concerto aliado a uma magnífica sala de espectáculos encerra em si um local obrigatório. Assisti a David Fonseca ao vivo, poderia até ter sido Gotan Project, Clã ou José Cid. Mas a noite ainda é longa. De tal sorte, atravesso as portas da vila e paro na praça Santiago, onde somente eu e a bebida que ostento na mão é que não somos património da UNESCO... Aqui, entro na temática do cinema que decora o Cinecittá, bebo um shot ao som do melhor rock no El Rock, bebo uma mini ao preço da chuva no Cara & Coroa e relembro os grandes hits portugueses e internacionais dos anos 80 no Secos, propriedade do vocalista dos Fragmentos. Mas são 2 da manhã e os bares fecharam. A noite ainda promete muito e por isso vou até ao Património Bar e integro-me facilmente no seu ambiente familiar, dançando os grandes temas do momento. São 4 da manhã. O tempo e a adrenalina rogam-me que não fique por aqui. Mergulho assim no cenário absolutamente Baywatch do La Movida Beach, com os seus bares em madeira e as suas pranchas de surf. Sem Pamela Anderson, sem Mitch Buchannon, mas, goste-se ou não, festa e animação reinam aqui seguramente. O dia já nasceu e a barriga dá horas. Nada melhor que uma breve incursão às perdições de pastelaria da Padaria Nacional (ou o Painço), em frente à muralha. É hora do merecido repouso, no pequeno bungalow de arquitectura moderna para turismo rural, situado na Encosta do Paraíso, em Pevidém.

Sábado

A noite foi longa, logo, a manhã está perdida. Saio do albergue com o apetite de almoço bem aberto. Vou em direcção a S. Torcato e sigo a sugestão de parar na Passarada para me deliciar com o típico bolo quente com sardinha ou toucinho. Vou num ápice para o centro de Guimarães, desejoso de sentir aquele mundo de reis e castelos. Assim, chego ao Largo da Oliveira e saboreio um café com requinte na esplanada da Pousada Nossa Sr.ª da Oliveira. Dou início ao meu trajecto pelo coração do centro histórico, pelas suas seculares ruelas e largos, por entre as suas casas medievais, e passo através do arco da Rua de St.ª Maria até parar uns segundos a admirar a Câmara Municipal e a Biblioteca. Logo adiante, entro nas Costinhas e não resisto a morder uma Torta de Guimarães, esse doce tipicamente vimaranense. Subo pelo Jardim do Carmo e lá no cimo vejo o majestoso Paço dos Duques, a famosa casa senhorial quatrocentista. Sinto de perto a grandeza dos seus salões, o encanto das suas tapeçarias, a arte das suas exposições. Entro no território vizinho e estou, nada mais, nada menos, do que entre 4 paredes de uma das Maravilhas de Portugal: o simbólico Castelo. Subo ao alto da muralha e assisto da Tribuna à batalha de S. Mamede com a panorâmica que me é oferecida do campo de batalha. Concluído o roteiro pela Colina Sagrada, paro no Cor de Tangerina e provo a pizza vegetariana e um dos seus múltiplos chás. Aproveito e espreito o seu bazar. Faço o percurso inverso, e se conhecer Guimarães e sua história é conhecer as raízes do meu país, então atravesso a Oliveira e visito o Museu Alberto Sampaio. É fim de tarde. Está na hora certa de ir até à Av. de Londres a um dos seus cafés. Começo a percorrer o caminho a pé quando dou conta da azáfama que me envolve. Vejo multidões de indumentária branca, em passo apressado. “Porquê tamanho reboliço?”, interrogo um dos transeuntes. A sua resposta limitou-se a um sorriso. E esse sorriso cativou-me, de tal modo que resolvi segui-lo. Vi uma multidão a entrar no Estádio D. Afonso Henriques. Aí percebi que se Guimarães é o berço, o seu Vitória é a mão que o embala. Entrei, assim como dezenas de milhar, e cantei, saltei e vibrei com a multidão que me rodeava, contagiado por uma indescritível paixão que Guimarães e suas gentes depositam nas suas Instituições. As camadas sociais diluem-se e a emoção impera. Afinal, tudo o que eu procurava neste fim-de-semana era emoção e divertimento… E, clubismos de parte e porque futebol é, na sua essência, um espectáculo, não dei por perdido o dinheiro que gastei na aquisição do ingresso… É hora de jantar e nada melhor que deliciar-me com a cozinha típica da região, acompanhada desta feita pelo vinho verde da ordem, no acolhedor El Rey, bem no centro da Praça Santiago. Observo o movimento crescente que vai assolando a praça. Vou ouvir um som ao Túnel logo ali à frente. Vou até à Despensa do Marquês, ao lado do Campo S. Mamede, e não dispenso aquele Martini Bianco. A hora avança e é momento de decidir onde passar uma noite de arromba. As sugestões são 3: desde o ambiente giro do Eskada, em Moreira de Cónegos, passando pelas festas apadrinhadas pelos melhores DJ’s do Custo Lounge, na rodovia de Covas, até ao conceituado TrásTás, no meio da Rua Gil Vicente. Porque a condução sob efeito do álcool é, antes de mais, um tipo legal de crime, a escolha foi por demais sensata e recaiu na última das hipóteses, pelo que entrei no Trás e revivi as grandes tradições da noite vimaranense, neste spot repleto de glamour e de vivências que atravessam múltiplas gerações vimaranenses. Queimadas umas quantas calorias numa noite tão intensa, não podia dormir sem repor as energias dispendidas, colmatando com o necessário alimento. Fazendo jus a um Portugal das tascas e tabernas, fui saborear uma bifana à Tasca do Júlio, no Largo do Trovador. Em resumo, dei entrada no Villa Hotel para pernoitar e já era dia, bem de dia até…

Domingo

Passaram 2 dias magníficos mas violentos. Hoje é o dia de descanso semanal por excelência. Por conseguinte, desfrutar dos pedaços paradisíacos da Natureza que Guimarães oferece é ganhar fôlego para enfrentar uma dura semana de trabalho que se aproxima. Assim, recupero o esforço dispendido no almoço no Oriental, bem no Largo do Toural, com os rojões típicos da região, a sua posta à mirandesa de bradar aos céus ou com a tenrinha picanha sempre de braço dado com o feijão preto. Sinto necessidade de respirar e não hesito em tomar um chá no Formigas, no seio do Parque da Cidade. Dou uma caminhada rejuvenescedora pelo parque e pelos seus trilhos. Sinto uma enorme vontade de ver Guimarães novamente, pelo que sigo viagem no teleférico com destino à Serra da Penha, com as suas fontes naturais e paisagens verdejantes. Deste miradouro, guardo na memória a imagem de uma enorme cidade, activa e conservadora dos seus honrosos valores, dinâmica e empreendedora na construção sustentada de um futuro risonho, com o natural reconhecimento além fronteiras de uma grandeza que ultrapassa a sua área geográfica. Guimarães e o seu futuro. E falar do futuro em Guimarães é dizer: Guimarães Capital Europeia da Cultura/2012. E cultura em Guimarães é ver o novo Centro Cultural de Vila Flor. Aí, caminhei pelos jardins do seu Palácio. Jantei com classe no seu restaurante. E não podia perder o grande filme cartaz da sessão do Cineclube de Guimarães, no Grande Auditório. A lei do eterno retorno. Dirijo-me pela variante de Creixomil, contorno a rotunda de Silvares e estou prestes a entrar na auto-estrada. Para trás, deixo esse mundo dos reis e dos castelos que julguei imaginário. Carimbo assim a estadia na terra dos caminhos convergentes entre a História e o Progresso, dizendo: ad aeterno, Vimaranes!

Texto: Ricardo Pinto da Silva

Fotos: Pedro Rodrigues

AMPLEXO

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

OBRIGADO


A todos os "comentadores de bancada" deste blog, este (o blog), entende ser já ser tempo de expressar o seu agradecimento. É sempre gratificante para mim receber boa crítica, seja ela positiva ou negativa. Obrigado portanto pelo colorido que têm dado aos primeiros passos deste blog. As portas dos comentários estarão sempre abertas para vós. E sirvam-se do e-mail quando quiserem dizer algo mais extenso que eu comprometo-me a publicar aqui os vossos textos, quando tal seja pertinente. Mas, João Miguel, peço-te que não sugiras este blog ao Dr. Pedro... Não quero que ele se recorde daquele telefonema...
Um abraço e um sentido obrigado!
P.S.: Uma imagem repleta de cachecóis de Portugal serve sempre para combater as saudades dos comentadores mais "emigrantados". Eis a escolha da imagem...

terça-feira, 30 de setembro de 2008

LOST!


Tenho um profundo sentimento de perda por ver limitado o meu direito de liberdade de expressão, mas não me posso hoje dirigir ao leitor deste post com tudo que me apetece realmente dizer. Ainda assim, nada me impede de constatar uma evidência. Como quem acompanhou os primórdios deste blog bem sabe, encontro-me a finalizar (espero bem...) o meu estágio. A decisiva e derradeira prova de fogo deste estágio consiste numa prova oral, com um tema previamente seleccionado e SUMARIADO. Dei cumprimento a todos os requisitos legais exigíveis e fui admitido a realizar a mais que esperada derradeira prova de fogo. Mas hoje, 30 de Setembro de 2008, aqueles que irão aferir da minha competência para exercer a profissão, informaram-me, em traços breves e linguagem simples, que PERDERAM O MEU SUMÁRIO, O MEU TEMA DA ORAL! Aprecio a frontalidade, onde quer que ela se encontre. Mas o que mais me fascina no meio de todo este circunstancialismo é o perder algo de vital importância para o interessado, assim, como quem perde uma moeda de 1 euro ao tirar o dinheiro dos bolsos para comprar o bilhete do autocarro... Foram, aproximadamente, 50 páginas que se perderam e que foram elaboradas com uma diligência e sentido de responsabilidade quase impossíveis. Estou felicíssimo com tudo o que aconteceu.
Resumindo, mais vale limitar o meu direito de liberdade de expressão. Não dizer tudo aquilo que quero dizer e que merecem ouvir ou ler. Pelo menos, enquanto a "faca e o queijo" estiverem nas mãos do lado de lá... Causará sempre maior impacto deixar algo no ar. E sempre é preferível a dizer a verdade "em lume brando", numa condescendência que seria por demais lisonjeira para quem merecia ouvir algo mais...
Perdoem-me o cliché, mas "é o país que temos"!

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

ATÉ QUANDO, ATÉ QUANDO!!!

O Senado Romano em 63 a.C. A denúncia de Catilina por Cícero, o célebre discurso

"Qvosque tandem abvtere, Catilina, patientia nostra?"

Uma tradução fiel da citação apresentada supra revela-nos um "Até quando, Catilina, abusarás de nossa paciência?". Era esta a designação que tomaria o discurso proferido por Cícero, cônsul romano, no intemporal Senado em Roma, no ano de 63 a.C., discurso dirigido a Lucius Sergius Catilina, há época seu arqui-rival na nomeação para o prestigiado cargo político. A história, contada simples, diz-nos que Catilina foi questor, pretor e governador de África até 64 a.C., data em que cobiça o verdadeiro poder político, vulgo, o de cônsul, e encontra como adversário Cícero, que leva a melhor nesta corrida ao poder. Surgem então as inimizades entre ambos, com acusações de tentativas de assassinato incluídas, até ao monumental discurso de Cícero, com o título referido, que selaria o estatuto de persona non grata de Catilina perante o Senado, obrigando-o a exilar-se e a refugiar-se em planos votados ao insucesso para matar Cícero, o cônsul eleito. Este discurso, não descurando a sua dignidade e prossecução de objectivos marcadamente políticos, constitui uma obra-prima de retórica e um exemplo sublime de discurso argumentativo. Por isso e por muito mais, Cícero é um dos primeiros políticos da História do mundo Ocidental e uma referência enquanto tal. Era assim Cícero: um cerebral...

Sucede que Cícero e o seu discurso padeceram de um pequeno e descomunal azar: o de Lucius Sergius Catilina se chamar Catilina e não TERESA GUILHERME. Seria um condimento perfeito que conferiria ao discurso aquela gota de vanguardismo e perpetuidade... Em 1991 fui a um concurso de televisão. No "Senado" da Produção do concurso, Teresa Guilherme tinha levado a melhor na corrida ao poder. Na altura, com 10 anos de idade, o meu poder de decisão era diminuto. Por decisão dos meus pais, sempre sábios e sensatos (como Cícero...), fui a esse concurso porque seria uma experiência positivamente marcante, muito instrutiva e enriquecedora. E foi mesmo, se me abstrair do facto de que estive a menos de 1 metro da Teresa Guilherme, da sua arrogância e má formação. São 3 décadas de Teresa Guilherme, de sua intervenção activa, ainda que intermitente, no panorama televisivo em Portugal. São 3 décadas do pior que já foi feito em televisão: "Ai os Homens", "Furor", "Big Brother", "Rosa Choque", "Floribella" e "Chiquititas" são realidades puras de desmedida mediocridade no serviço público de televisão e todas tiveram o cunho pessoal, a assinatura de Teresa Guilherme. Surge agora o "Momento da Verdade". Sinceramente, porque julgo estar a dirigir-me a intelectos com o mínimo de massa crítica, escuso-me a tecer grandes considerações sobre a nova "jóia" de Teresa Guilherme. Digo apenas que continuarei a lembrar o "Momento da Verdade" como um grande filme, do Karaté Kid, do Daniel-San e do Mr. Mhyagi, em que o protagonista acaba sempre por ficar com a "gaja" de 12/15 anos no final, em que não há sexo, não há grande sangue e, acima de tudo, não há "lixo" e mediocridade. Enfim, prefiro lembrar o "Momento da Verdade" como algo que tenha marcado uma geração. A minha geração. Ainda que a Teresa Guilherme também a tenha acompanhado. E por tudo isto, 3 décadas de Teresa Guilherme em televisão é merecedor de que se questione "até quando abusará ela da nossa paciência?". É uma afronta aos meus direitos enquanto espectador, cidadão e, porque não, contribuinte...

Resta assim concluir, dizendo que Catilina conheceu a sua morte enfrentando o exército do Senado, que lhe reconheceria a sua bravura. O paralelismo impõe-se e pouco me importa que se reconheça bravura na "obra" de Teresa Guilherme. Preponderante, é que a sua "morte televisiva" ocorra rapidamente... Até pode ocorrer frente-a-frente, sem golpes nas costas, tal como Catilina. Pode até ser com um golpe fatal desferido pelo Karate Kid, no tal "Momento da Verdade". Mas o que me interessa MESMO é vestir a pele de Cícero e desejar que a Teresa Guilherme deixe, de uma vez por todas, de abusar da minha paciência...
AMPLEXO

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

FELIZ ANIVERSÁRIO


Esta noite bebi uma taça de champagne em honra de alguém muito especial. Foi o 64º aniversário do meu pai. Está, por isso, de parabéns. É um grande homem e tem "obra" feita, como é o seu rico filho... Por esta razão - e muitas outras mais - hoje é o dia em que a obra presta homenagem ao seu autor. Para isso, essa obra utiliza este blog como veículo para homenagear alguém que merece muito crédito, todo o crédito até. Assim sendo,
BOA COTA! JÁ VAIS NAS 64 TAÇAS DE CHAMPAGNE... CONTINUA A SER HOJE O MESMO DE SEMPRE: RIJO!
PARA O ANO CÁ ESTAREI, OUTRA VEZ, A CONTAR AS TUAS TAÇAS DE CHAMPAGNE...
AQUELE AMPLEXO

terça-feira, 23 de setembro de 2008

GARRAIADAS...


Começo a padecer de alguns sintomas que me sugerem estar a caminhar, em jeito galopante, para a terceira idade. A par de uns quantos charmosos cabelos brancos que me vão aparecendo pela região capilar, deparo-me agora com a incapacidade de situar determinados episódios e momentos nas devidas circunstâncias de tempo e lugar. Porém, se no devido tempo era da opinião que a Garraiada era o evento mais fascinante da Queima das Fitas em Coimbra, ainda hoje perfilho esse entendimento. A assustadora incapacidade de "localizar" temporalmente as minhas noites de Queima enquanto estudante, não só nos dias mas, até, nos anos, é um dado adquirido. Não se duvida. Mas hoje, enquanto percorria a pé aqueles metros até ao Estádio D. Afonso Henriques, tive o privilégio da companhia do Pedro, irmão do meu amigo João Ildo, e logo me recordei da minha última Garraiada enquanto estudante, ou seja, a do ano de 2004. Porque é que me recordo desta? Pois bem, se assim é... acompanhem-me por favor.

Nos meus tempos académicos, ainda precedentes da reforma de Bolonha, a Garraiada era ao Domingo na simpática localidade costeira da Figueira da Foz. O espírito da Garraiada consistia pois na saída do Parque da Queima directamente para a estação de comboios, com destino à Figueira, num comboio gratuito e com 3 dúzias de gente embriagada por cada 2 metros quadrados. Não me esquecerei muito facilmente daqueles que iam até à Figueira só com as pernas dentro do comboio, ou de aqueloutros que aproveitavam para descansar um pouco, deitados sobre as barras de metal que servem para pôr as malas, por cima dos bancos do comboio, tipo carnes expostas no talho. Nesse ano de 2004, encontrei, ainda no Parque, na noite de Sábado para Domingo, o Pedro, irmão do meu amigo Ildo. Combinámos, já de manhã, ir à Garraiada no tal "comboio embriagado". Pedi-lhe meia-hora para ir a casa trajar-me a rigor, maxime, vestir o trajo académico. Ele anuiu. Assim, ainda em casa e já trajado a preceito, resolvi ligar ao Pedro, irmão do meu amigo Ildo, averiguando por onde andava. Percorri o "p" da lista telefónica do meu telemóvel até chegar ao "Pedro Ildo". Premi a tecla verde e estava prestes a iniciar a conversação. Apercebendo-me que, do outro lado da linha, o outro interlocutor também havia premido a tecla verde (do seu telemóvel, claro), de imediato soltei o seguinte cumprimento: "Como é, filho da puta?". Para as almas menos "anortizadas", impõe-se aqui um breve esclarecimento. A expressão por mim utilizada ("filho da puta") chega, por mais estranho que possa parecer, a nem ser palavrão. Partindo do pressuposto que a conversa iria decorrer entre 2 nortenhos, o uso do vernáculo descrito daria origem a um início excelente. Se juntarmos o facto de os 2 intervenientes serem, não só nortenhos como também vimaranenses, o uso da referida expressão demonstra ainda que a conversa não poderia ter começado com maior afecto ou harmonia. Em suma, foi aquele "filho da puta" que todos dizemos quando ouvimos uma conferência de imprensa do José Mourinho - é, pois, a expressão verbal mais condizente com um estado de honesta admiração.

Pelo descrito se influi que a conversa fluia serenamente, tal qual como no Reino da Dinamarca. Tudo graças àquele "como é, filho da puta?". Até que, a esta pergunta surgiu a resposta, lá do outro lado da linha. E a resposta foi "Rica???". Durante milésimos de segundo não reconheci a voz do outro lado. Findos esses milésimos de segundo, a harmonia e o afecto que deram início à conversação viriam a sofrer uma pequena nuance: a constatação de que, do outro lado da linha, o interlocutor não era afinal o Pedro, irmão do meu amigo Ildo, mas sim o seu PAI (do Pedro e do meu amigo Ildo)! Afinal, o número que eu tinha no meu telemóvel não era do Pedro, mas sim do seu pai... Tudo bem que o seu pai também seja vimaranense, mas "anortizar" assim a conversa com o primeiro homem que me viu nú (era o meu pediatra, leia-se...), era um exagero maior do que os explosivos manuais fabricados pelo Macgyver com uma chave de fendas, um fósforo e um maço de tabaco...

Vi-me assim "com a cabeça na guilhotina". Restava-me operar todos os esforços possíveis para não fazer "soltar a lâmina que me cortasse o pescoço". As hipóteses à vista seriam:


1- Tentar justificar o injustificável, caindo num rol de infrutíferas explicações sobre a "nortização" do conceito de "filho da puta";


2- Em busca do primeiro objectivo, tentar exprimir-me de alguma forma, uma vez que eram 7 e tal da manhã e eu tinha bebido um "camião" de álcool;


3- Na sequência do segundo objectivo, tentar não emitir sons estranhos, tais como o "enrolamento" de algumas palavras de dicção mais exigente, como se estivesse a vomitar.


Perante este campo de decisão, optei por... nenhuma delas! Ao invés, e instintivamente até, premi de imediato a tecla do meu telemóvel do lado oposto àquela verde, que havia dado início a esta conversação agora menos afectuosa ou harmoniosa: a tecla vermelha. Quebrei, portanto, aquela conversa. Agora com um dado novo: em vez de me preocupar em não fazer soltar a lâmina que me cortasse o pescoço, coloquei-me num estado em que desconhecia se havia feito soltar essa lâmina ou não. Tanto melhor assim. E até agradecia morrer ignorante neste capítulo... E no momento seguinte a este quebrar de conversação soltei um "Foda-se!!!". Para logo de seguida ficar a olhar fixamente para o meu telemóvel, incapaz de soltar uma palavra. Mas centremo-nos nesse "foda-se". Também aqui, para os menos "anortizados", esta expressão chega a nem ser um palavrão. Ponderadas as atenuantes de stress e vergonha impulsionadas pela situação descrita, o uso do referido vernáculo tem o intuito de ilustrar verbalmente um momento verdadeiramente marcante da existência de quem o profere, ao ponto de o próprio (o momento) se eternizar. Em suma, foi aquele "foda-se!" que todos dizemos ao vermos a cena épica de sexo entre Halle Berry e Billy Bob Thornton em Monster's Ball, ou a notável performance de Scarlett Johansson em Match Point - é, pois, a expressão verbal mais condizente com um estado de franca admiração.

Resta pois saber o desfecho da estória. Neste tocante, diga-se que o pai do Pedro, e do meu amigo Ildo, resolveu ligar a este último. Perante a chamada, o meu amigo Ildo decidiu atender. Do outro lado, o seu pai atirou: "Porque é que o Rica me ligou a esta hora?". O meu amigo Ildo, ao premir a tecla verde do seu telemóvel, colocou a sua cabeça na guilhotina... Cumpria-lhe fazer de tudo para que não se soltasse a lâmina que lhe cortasse o pescoço. A saber:


1- Tentar justificar o injustificável, uma vez que ele não sabia "puto" do que se tinha passado;


2- Em busca do primeiro objectivo, tentar exprimir-se de alguma forma, uma vez que eram 7 e tal da manhã e ele tinha bebido 2 "camiões" de álcool;


3- Na sequência do segundo objectivo, tentar não emitir sons estranhos, tais como o "enrolamento" de algumas palavras de dicção mais exigente, como se estivesse a vomitar.


Perante este campo de decisão, o meu amigo Ildo, ao invés de mim, optou pela segunda hipótese. Pelo meio, incorreu na terceira. E com isso, fez soltar definitivamente a lâmina, que lhe cortaria o pescoço...


Um forte AMPLEXO

terça-feira, 16 de setembro de 2008

SONHOS E MIRAGENS


Em tempos assim não tão longínquos, desci pelo elevador de minha casa até ao quiosque em baixo. Deparei-me, como em outros incontáveis dias, com a Camy atrás do balcão (o ipselone ou i grego, confere uma conotação ao nome bem mais fidedigna com a personagem em causa, bem melhor que um simples "i"...). Naquele tempo, o concurso do Euromilhões conhecia ainda os seus primeiros sorteios. Por isso, a febre de apostas era bem alta e o concurso dominava os temas de conversa nos cafés e praças deste país, ou não vivessemos nós na "nação do dinheiro fácil e de menor esforço". Por conseguinte, seguindo-se ao triste fado do infortúnio por nunca se ser o felizardo do cobiçadíssimo prémio primeiro - como se este tivesse, obrigatoriamente(!), de sair a quem tem o simples acto de jogar - surgiu no quiosque o inevitável "tratado" sobre "o que faria eu se me saísse o euromilhões?". Pois bem, a dita Camy proferiu os seguintes escritos, que aqui se dão por integralmente reproduzidos: "Ai, a mim se me saísse, ia já uma semana pro Algarve!"... Ora bem... Como dizer isto de uma forma, digamos, simpática? O melhor que consigo, e o que me apraz dizer, é que consigo passar com relativa indiferença por horizontes manifestamente... curtos. É que nem está em causa o facto de não se conhecer o Algarve, por escassez de posses. Porque a referida personagem deste post até goza férias no Algarve quase todos anos com os seus, como estes (os seus) fazem bem questão de "informar a comunidade em boa voz". Talvez haja gente com hábitos enraízados, não sei. Sei, isso sim, que este "imperativo algarvio", juntamente com aquele sonho de "se me saísse o euromilhões, construia uma vivenda e montava um café por baixo para me ocupar", enxertam na contemplação do prémio milionário um rasgo de inegável genialidade...
Isto posto, é hora de revelar o meu próprio "tratado" sobre a matéria. Assim sendo, que faria eu se me saísse o Euromilhões? Assim de repente, penso que compraria uma casa em Praga. É, é isso mesmo, comprava um apartamento no centro de Praga. Gostava de ter a sorte de poder contemplar a Stare Mesto, ou centro histórico, sempre que me apetecesse. Gostava de "fazer parte" de um local a que já fui em 3 ocasiões. Tudo porque estou a falar-vos de uma cidade realmente inspiradora. Tenho a sorte de manter o contacto com a Simona e com a Ivana, amizades que advêm dos meus tempos de Erasmus. Ainda bem que a distância que nos separa se resume ao mero aspecto geográfico da coisa. Porque são amizades para a vida e porque assim fui o "feliz contemplado", tal como no Euromilhões, com a descoberta de Praga tutelada por duas locais. Fiquei, pois, a saber que Praga vai muito além do seu Castelo e do seu centro histórico. Praga é os seus pomposos jardins. Os seus acolhedores cafés afastados do centro. As suas conversas. É a forma como os seus habitantes valorizam uma chávena de café ou chá ao anoitecer. É uma cidade culturalmente instruída. E, com a devida modéstia, eu gostava muito de passar parte da minha vida assim... Na "Cidade das mil torres", tal como a Simona me disse.
Assim, caríssimas Simona e Ivana, só se eu morrer entretanto. Estou convicto que nos encontraremos novamente, na nossa "beautiful Praha"...

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

"Nada é mais inabitável do que um lugar onde se foi feliz."
(Cesare Pavese)
Curioso como estas palavras de Cesare Pavese causam em mim sentimentos contraditórios. Ora concordo em absoluto, ora discordo veementemente. Ao longo dos meus tenros 27 anos, tanto posso afirmar que "Pavese, és grande sim senhor!", ou "O que é tu estás pr'aí a dizer?".
Destarte, nasci, cresci e vivi toda a minha adolescência em Guimarães. Garanto-vos que, até aos meus 17, idade com que dei início à minha vida no ensino superior, fui um rapaz feliz. Entretanto, licenciei-me. Dei início à minha vida profissional a realizar um tirocínio em advocacia. Em que local? Guimarães certamente! No tal lugar onde havia sido feliz... E, em abono da verdade, vou discordar dos doutos escritos de Pavese neste capítulo. Regressei e não senti minimamente que a cidade berço se tenha tornado num local inabitável. Bem pelo contrário. Senti um certo choque por voltar a viver debaixo do mesmo tecto e sobre a alçada dos meus progenitores, é certo. Mas também nunca fui, propriamente, um adolescente "muito fácil" em casa. Quanto ao estágio, chega a ter tons de desesperante e as perspectivas de futuro são bastante negras, como já foi explicitado. Simplesmente, não acredito que este estado de coisas se alterasse significativamente caso eu resolvesse estagiar em Coimbra, no Porto ou Lisboa, ou em Freixo de Espada a Cinta... In casu, sinto-me neste meu regresso como alguém de que não tem razão de queixa. Vou vivendo e sinto-me útil, nem que seja para aqueles que me estão mais perto.
Mas é retrospectivando o meu percurso académico que encontro a veracidade nas palavras de Pavese. Concluí a minha licenciatura em Coimbra em Janeiro de 2005. Olhando para trás, tive os meus "anos loucos em Holywood"... Foi indescritível. Entendo, hoje, perfeitamente o alcance do provérbio "Coimbra é mãe e madasta". Então, voltei a Coimbra neste ano transacto onde realizei uma pós-graduação. Não mais encontrei aquela pérola do Mondego que outrora conheci... Desprovida daqueles tempos de irresponsabilidade, daqueles que nos marcaram, Coimbra tornou-se hoje para mim um local inabitável, que recordo com enorme nostalgia...
Concluo, dizendo que uma questão ainda se levanta. Pelo meio do meio percurso, habitei meio ano de Erasmus na Bélgica, na acolhedora cidade de Leuven, Louvain ou Lovaina (como preferirem). Foi o meio ano da minha vida e por enquanto fico-me por aqui. Mas a questão que se impõe é: Será Leuven também um local inabitável, esse local onde eu fui mesmo mesmo mesmo feliz? Será que algum dia responderei a isto?
Quem sabe...

INSTINTO DE SOBREVIVÊNCIA

Em meados de Agosto de 2005, seguia no meu 2º inter-rail pela costa da Bulgária, mais concretamente em Varna. Fazia-me acompanhar do meu amigo Giovanni, siciliano, a quem endereço desde já um saudoso abraço (amigo, oportunamente, traduzirei este post para siciliano para que o possas ler). Subitamente, enquanto nos dirigiamos para a praia num autocarro apinhado de gente, o meu amigo Giovanni foi categoricamente esbulhado no seu património por uma jovem búlgara de ar ternurento, que lhe subtraiu a carteira. Giovanni, homem de boa rés, sentiu profundamente no seu estado animico a densidade daquele acto criminoso. Uma tarde de incertezas quanto ao facto de ter sido roubo ou não, de confirmação de que, efectivamente, o roubo houvera sido uma realidade e de queixas numa esquadra de polícia em que a lingua inglesa era uma encantadora raridade, e o venire da inadiável decisão: do "fim da linha" na viagem do Giovanni, o "The End" anunciado da aventura sobre carris, como o final infeliz do soldado que não mais regressa a casa ou a separação dos amantes que em todo o filme indiciavam ficar juntos. Perante o sucedido, fui forçado a optar por entre 3 campos de decisão. A saber:
Primus- Igualaria formalmente a decisão do meu amigo e companheiro de viagem, regressando também eu a casa, a este paraíso à beira-mar plantado;
Secundus- Igualaria materialmente a decisão do Giovanni, regressando com ele a sua casa, repita-se, à Sicília, gozando do conforto que me poderia ser proporcionado nessa ilha que, até então, não conhecia;
Tertius- Continuava sozinho o inter-rail a partir do ponto em que me encontrava, até ao último dia de validade do meu bilhete, sendo que nunca tinha antes viajado sozinho, pelo menos a esta dimensão.
Resumindo, a escolha que me restava era simples: ora opto pelo conforto e não me chateio por aí além, ora opto por gozar o que restava das minhas férias a "sobreviver". A páginas tantas, talvez estranhamente, optei pela terceira das hipóteses. Então, dei 50 euros ao meu amigo Giovanni para que se alimentasse no seu regresso e dei continuidade áquela aventura sozinho. E decidi que a costa da Roménia seria o meu próximo destino. Assim, parti para Bucareste. Estava entregue ao mundo. O meu passaporte, o meu bilhete de comboio, os meus cartões multibanco e a minha mochila atolada de roupa eram os meus únicos e fieis amigos. Após um episódio mais ou menos dantesco dentro do comboio, ainda em Varna, em que por pouco não fiquei sem o bendito passaporte, fiz-me acompanhar, desta feita, por um persistente pensamento: "se sobreviver a isto, sobrevivo a tudo!". E ainda deambulava sobre esta máxima quando, já na Roménia, em direcção à costa, fui abordado dentro de um comboio por um sujeito. Fiquei a saber que ele era romeno. Fiquei a saber ainda que aquele indivíduo bebia imenso, que sofria de um desgosto amoroso e que havia sido abandonado. Fiquei a saber que aquele homem, que conheci por acaso, por mero fortuito, se dirigia para o mesmo sítio que eu para tentar pôr fim à vida. O homem era sinistro e assustador. Não acreditava que eu era advogado-estagiário e pediu-me que o provasse. Pediu-me os meus documentos, inclusive. Insultava tudo o que se cruzasse com ele naquele comboio, como se não houvesse amanhã. Disse-lhe que me ia encontrar com amigos que já me esperavam há 1 dia. O sujeito - e bem - não acreditou. E começou a insistir em vir comigo. E estava eu ali, a tentar sobreviver... E a ter de lidar com aquilo...
Por isso, comecei a desejar, realmente, que o dito homem se afundasse no Mar Negro... Não sei se o conseguiu, se não, mas a dinâmica ali presente foi perfeita: de um lado a sobrevivência, do outro a rendição. E se estou aqui a contar isto, então fui bem sucedido... Portanto, sou hoje um homem mais convicto. Porque, como ordena a máxima, "sobrevivi àquilo, logo sobrevivo a tudo o resto"...

INTRO - BREVES CONSIDERAÇÕES

Eram 3 da manhã de 11 de Setembro de 2008. A escolha da data, apesar da carga drasticamente simbólica do dia, foi completamente aleatória. Simplesmente, nesse momento apeteceu-me criar um blog. Assim o fiz. Sempre podia ter surgido uma ideia pior. Mas foi algo que, bem aproveitado, até pode ser instrutivo. Por conseguinte, apesar de já estar possuído por um sono infernal, escolhi um título, recolhi a imagem e virei e revirei esta até ao ajustamento actual. De seguida, elaborei a descrição do blog. O resultado, é o que na gíria se pode chamar de "aquela bela merda que podem vêr". Mas pouco importa. A ideia preponderante é a de que criei o meu próprio blog. Naquele determinado momento, quis criar um blog e assim o fiz. E este blog, inevitavelmente, já faz parte de mim. Por isso, em homenagem a essa criação do blog, a essa decisão do momento, decidi que o escopo deste blog fosse isso mesmo: aquilo que fiz em determinado momento, as decisões que tomei em certo tempo e as consequências que suportei por causa disso. É o chamado "fortuito" ou "acaso", que às vezes não parece ser nada e afinal é tudo. Ou seja, a "páginas tantas" aconteceu "isto e aquilo" e, por isso, hoje as coisas são assim. E é por falarmos do momento que o pano de fundo deste blog é negro. Porque os meus desafios próximos impõem-me que veja o futuro desta cor. Resta-me, pois, dar ouvidos aos Radio Macau e "tentar mandar pintá-lo, em tons de azul"...
A ver vamos...