sexta-feira, 12 de setembro de 2008

"Nada é mais inabitável do que um lugar onde se foi feliz."
(Cesare Pavese)
Curioso como estas palavras de Cesare Pavese causam em mim sentimentos contraditórios. Ora concordo em absoluto, ora discordo veementemente. Ao longo dos meus tenros 27 anos, tanto posso afirmar que "Pavese, és grande sim senhor!", ou "O que é tu estás pr'aí a dizer?".
Destarte, nasci, cresci e vivi toda a minha adolescência em Guimarães. Garanto-vos que, até aos meus 17, idade com que dei início à minha vida no ensino superior, fui um rapaz feliz. Entretanto, licenciei-me. Dei início à minha vida profissional a realizar um tirocínio em advocacia. Em que local? Guimarães certamente! No tal lugar onde havia sido feliz... E, em abono da verdade, vou discordar dos doutos escritos de Pavese neste capítulo. Regressei e não senti minimamente que a cidade berço se tenha tornado num local inabitável. Bem pelo contrário. Senti um certo choque por voltar a viver debaixo do mesmo tecto e sobre a alçada dos meus progenitores, é certo. Mas também nunca fui, propriamente, um adolescente "muito fácil" em casa. Quanto ao estágio, chega a ter tons de desesperante e as perspectivas de futuro são bastante negras, como já foi explicitado. Simplesmente, não acredito que este estado de coisas se alterasse significativamente caso eu resolvesse estagiar em Coimbra, no Porto ou Lisboa, ou em Freixo de Espada a Cinta... In casu, sinto-me neste meu regresso como alguém de que não tem razão de queixa. Vou vivendo e sinto-me útil, nem que seja para aqueles que me estão mais perto.
Mas é retrospectivando o meu percurso académico que encontro a veracidade nas palavras de Pavese. Concluí a minha licenciatura em Coimbra em Janeiro de 2005. Olhando para trás, tive os meus "anos loucos em Holywood"... Foi indescritível. Entendo, hoje, perfeitamente o alcance do provérbio "Coimbra é mãe e madasta". Então, voltei a Coimbra neste ano transacto onde realizei uma pós-graduação. Não mais encontrei aquela pérola do Mondego que outrora conheci... Desprovida daqueles tempos de irresponsabilidade, daqueles que nos marcaram, Coimbra tornou-se hoje para mim um local inabitável, que recordo com enorme nostalgia...
Concluo, dizendo que uma questão ainda se levanta. Pelo meio do meio percurso, habitei meio ano de Erasmus na Bélgica, na acolhedora cidade de Leuven, Louvain ou Lovaina (como preferirem). Foi o meio ano da minha vida e por enquanto fico-me por aqui. Mas a questão que se impõe é: Será Leuven também um local inabitável, esse local onde eu fui mesmo mesmo mesmo feliz? Será que algum dia responderei a isto?
Quem sabe...

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